domingo, 23 de fevereiro de 2014

Efeito Borboleta

Estou deitada entre lençóis amarrotados que escondem meu corpo nu do leve frio que sinto enquanto você procura a primeira peça, também amarrotada, atirada ao chão. Na madrugada do quarto, o pequeno abajur de estopa mancha de amarelo as paredes e aconchega nossa respiração ainda quente no oxigênio de corpos suados. Como sempre, tenho sono de vestir qualquer coisa e abrir a porta do corredor que não te deixa sair sem que eu destranque o caminho.


Cueca:
Você em pé me observa em silêncio. Um dos raros momentos que nos olhamos sem falar alguma coisa da vida ou da arte.

Jean-s:
Você comenta que tá bonito assim, essa luz no meu rosto com o meu corpo perdido entre as estampas repetidas dos lençóis e dos travesseiros. Eu chorei muito nesses últimos dias. A dor na minha cabeça pesou como se ela estivesse suspensa por um débil filete de nervo no pescoço. Tais mais tantos acontecimentos me fragilizaram nesses últimos dias. Tudo isso me deixou carente e eu ordeno que você me abrace mais uma vez pra, quem sabe, suprir a falta de carinho desses últimos dias. Deitados, conversamos outra coisa legal, mas é você que novamente fala mais enquanto de olhos fechados eu sinto sua pele na minha. Seu peito sem roupa e seus braços um pouco gelados de quem se aquece enquanto gesticula com sérias caretas e algumas risadas empolgadas. O dia quer amanhecer e o mínimo fio de sol nos é proibido.

Camisa:
Você comenta que sabe fazer um ótimo café da manhã e finge que isso não é um convite quando sou direta em perguntar. Eu suspiro cansada da semana, dos dilemas e das cobranças e porque sei que se aproxima o minuto que me separa de continuar pelada para em seguida dormir.

Meias:
Minha vez de procurar as peças perdidas, postas pra lá enquanto você buscava a minha boca e eu a sua.

Calçados:
Meu cabelo embaraçado. Meus seios arrepiados. Meus pés descalços.

Jaqueta:
Você lê um título técnico amontoado entre outros e literaturas na escrivaninha, e eu não queria ter me lembrado de que a segunda-feira não se atrasará em chegar para haver mais tempo de aliviar meu medo.

Seu traje está completo. Com roupa você fica mais sério. Te guio pelo caminho que você já conhece. Você some nas minhas costas e eu nas suas. Todo o trabalho em levantar da cama, me vestir, caminhar até um foco de luz para evitar que você tropece, abrir uma porta, a outra, trancar essa porta, olhar rapidamente para trás, trancar mais esta, tatear no escuro o prego das chaves e voltar para o meu quarto, todo esse trabalho espanta meu sono.
Folheio agora mais um livro sem dedicatória.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Uma e meia

- Tá na fila aí, véi?
- Tô.
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- Porra, que demora.
- Ná, o maluco entrô aí faz uma cara. Deve tá cherano.
- Ou tá cherano ou tá cagano.
- Hahaha, pode crê.
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- Pô, finalmente.
- E ele dexô uma bera ali. Se o próximo não pegar, ganhei uma cerveja.
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- Pô amigo, agiliza aí que eu tô me mijando.
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- E ganhei uma cerveja!