Brinco de boneca. Brinco de
boneca na orelha ou brinco de brincar de boneca? Boneca tem vida quando brinca.
Pode ter vida sem brinco. Quando não brincamos com elas, elas ficam
assim: sentada na cadeira torta a
boneca ou a cadeira? Olhando pro teto. As mãos de dedos abertos. Paradas, mas
expressivas. Se você brinca com elas, expressivas, se não brinca com elas,
pausas aterrorizantes.
Voltei do Cream Porter e do Irish
Red. Voltei da brincadeira de te encontrar. Voltei da brincadeira de te procurar.
Ainda busco no esconde-esconde de mim. Alguém pra balança caixão balança você dá
um tapa na bunda que vai se esconder? Alguém pra unidunetêsalamêlinguê o-sorvete-colorido-escolhido-foi
você?
Voltei do sangue como água no
meio-fio e voltei do medo de ser estuprada no meio. Da rua.
Caminhar no amarelo dos postes da
noite. Caminhar reparando só no chão de minúsculos paralelepípedos. Caminhar reparando
só no topo, no topo, no terraço, no alto dos prédios. Caminhar no céu preto com
alguns focos de brilho. Coma o brilho. Qual o fosco que te transluz? Caminhar nas
digitais lupadas, de lupa, dos meus dedos. Ontem tinham menos rugas. Ontem tinha
menos tremor. Ontem tinha mais sangue.
É que o sangue no meio-feio. É que
tinha espuma de sangue na água do meio-fio.
Sonhei com uma agulha de
soro-que-me-cura-me-cura-?- fincada no pé. Direito. No pé que caminho direito. Doeu
a veia verde saliente do topo do pé. Da superfície do pé. Da superfície. da
pele.
Explodiu a veia. Véia. Explodiu a
veia do topo da pele do pé. Puxei o rabo do tatu, quem saiu fui eu. Quem roubou
pão na casa do João fui eu. O terceiro que a Terezinha deu a mão fui eu. A ligação
que caiu fui eu.