domingo, 3 de agosto de 2014

Frete

Louças na pia: Noite atípica de inverno. Em meio à estação mais gelada do ano, o vento que fez cócegas em nosso rosto era morno. O céu parecia de verão: forte azul e nuvens claras. No jardim de casa as garrafas vazias e os pratos sujos da noite anterior. E sinto o cheiro do seu tempero.

Mais sentimental: Hoje é domingo e se este dia da semana possui em sua presença uma sensação de fim e recomeço, nesta noite ela se tornou mais forte. Eu sei que você ainda continua na mesma cidade, em bairro não distante. Acontece que te ajudar com as roupas e os livros, os mesmos que pintaram o quadro da nossa história, fez esse domingo parecer mais estranho que os outros.

Doses exageradas: Aquela xícara que eu gostava, branca e preta, a pequena que me servia na medida exata de meu gosto. Pode levar. Leva porque eu me lembro você esperando eu terminar meu café pra beber o seu. Naquela xícara. Você esperava com estilo, o sol da manhã iluminando a primeira leitura do dia. O pijama ainda vestido. Leva essa xícara porque a partir de hoje só beberei doses descompensadas. Não preciso de medida exata pro meu gosto passado.

Esse quarto: Você esqueceu seu perfume na estante perto da cama. Esqueceu ou deixou? Será que esqueceu pra que eu te faça uma visita em sua nova vista bonita, ou esqueceu porque quer mesmo deixar tudo pra trás? Você esqueceu pra que eu sempre me lembre de você, pode dizer. Você sabe que vou demorar meses até colocar o frasco no lixo. Dos lençóis ao odor que escapa da tampa que não fecha. Era eu que deveria ter deixado essa casa.