quarta-feira, 28 de maio de 2014

3:07

O frio e a chuva colocaram a cidade para dormir. Lá fora, os carros esquecidos ao lado da calçada denunciam a falta de coragem dos moradores em gelar o nariz e as orelhas. Ao pé da lareira ela termina de ler o romance que a fez suspirar levemente os lábios, que a lembrou do belo sorriso da noite passada. Antes de dormir olha pela janela a calma do bairro, o silêncio do inverno. Aproveita essa estação para fingir ter voltado ao tempo da não luz elétrica e sobe com uma vela até o seu quarto. Cansada, cai no sono antes que a fumaça da chama apagada se afastasse da cama. Dorme um sono de pedra, nem ao menos se move. A intensidade das atividades da semana é tão presente enquanto descansa que sente sobre seu corpo um peso vivo, atento. Ao tentar se livrar dele percebe que sua imobilidade não se deve ao cansaço. Abre os olhos, preocupada. Um susto. Uma pessoa. Ao tentar entender o que acontece consegue virar a cabeça para o lado, apenas porque foi deixada. São 3:07. Em cima de seu pijama alguém prendeu seus braços e pernas em cordas de nós precisos. O olhar que a seca é ameaçador, confiante, sem remorso. Aquele olhar sorria o sangue que logo iria escorrer. Sem pressa e preocupação, como quem espera a água ferver em fogo baixo, a mão alheia lhe tampava a boca com prazer em sua expressão facial. Ao erguer a mão que segura a faca afiada, a pessoa que planejara por semanas o assassinato quase goza antecipadamente.

Um susto.

Um sonho.

Ufa. Ela abre os olhos. São 3:05, a porta range.

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