É difícil esquecer que tem concreto no concreto. No centro na XV na janela do meu quarto da cozinha na cabeça da vizinha. Sete e meia da noite. Algumas lojas da rua mais famosa resistem abertas. Não é fim nem começo de mês, mas elas insistem já quando quase noite com as portas erguidas e promoções com parcelas baratas pra você ser mais brega ou mais estiloso. Eu sou brega de sentimentos. Porque hoje amar é arriscado e eu ainda insisto. Minhas portas estão fechadas às sete e meia da noite e vão demorar pra abrirem outra vez. Se abrirem...
É difícil esquecer que tem concreto no concreto. No centro na XV na calçada em volta da planta no meio do chão na vitrine na pipoca no céu. Céu que eu resolvo caminhar mais lentamente pra ver. Quase tropeço num copo de plástico cheio de algum líquido amarelo fluorescente produzido pela rede de comida rápida pra você comer rápido e voltar rápido pro trabalho e olhar rapidamente para o céu que eu resolvi ver demorado. Eu caminhando pela rua mais famosa já nem tão movimentada às sete e meia noite fui mais devagar. Arrisquei tirar os olhos da frente da cara e colocar em cima da cabeça.
É difícil esquecer que tem concreto no concreto. Mas eu quase esqueci quando no meio – na medianera – das pontas dos prédios que ficam às margens das pretas e brancas pedras eu vi o céu. Composto de azul escuro iluminado com nuvens brancas de marrom redondas e macias. É difícil esquecer que tem concreto no concreto. Mas eu até esqueci. E só olhei sorrindo de boca fechada. Passei da esquina que deveria ter virado e só então percebi que enquanto olhei sorrindo de boca fechada com os olhos em cima da cabeça, me olharam com bocas redondas e olhos nas têmporas.
Pouco mais de sete e meia da noite. Algumas lojas da rua mais famosa ainda estão abertas. Minhas portas estão fechadas às sete e meia da noite e um pouco depois também. Vão demorar pra abrirem outra vez. Se abrirem.
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