quarta-feira, 6 de junho de 2012

Baionetas no estômago

Justo no do domingo de manhã. Eu com cara de quem acabei de acordar, mas quem não dormi a noite inteira. A cama grande demais, apesar do colchão de solteiro. Os pés demorando mais pra esquentar e o lençol frio onde não tinha eu. Onde não tinha você. Busco qualquer música bem específica pra escutar e encontro, mesmo sem querer encontrar, um vinil que você esqueceu. Ou que não veio buscar. A vitrola respira perto de mim, mas não faz cosquinha atrás da orelha. O vinho também solitário me esquenta, mas não faz carinho na barriga. As lágrimas encontram minha boca, mas não me beijam. Eu posso andar pelo apartamento enquanto dure a madrugada que nenhum abraço-surpresa que me assusta pelas costas vai dizer que eu tô bonita nessa calça de moletom cinza sem calcinha. Meu corpo sofreu a noite toda de abstinência do teu. Eu tremi a noite toda de abstinência de você. E justo no do domingo de manhã. Eu com cara de quem acabei de acordar, mas quem não dormi a noite inteira. A primeira roupa que vi na minha frente e o cabelo ainda bagunçado. Fui comprar uns sonhos pra acompanhar o suco de laranja que iria fazer. Uma flor pra colocar na mesa.

Bem no domingo de manhã. Eu com os olhos estalados como se eles tivessem descansado a noite inteira. A cama extremamente desconfortável sem o peso de metade de você em cima de mim. O silêncio me incomoda. O silêncio da sua voz tagarela me incomoda. Enquanto tomo banho percebo a prateleira organizada demais. A neblina branca mostra um coração sorridente desenhado no box. Quando visto a camiseta percebo que estou molhado. Mesmo estando seco. O vento assovia, mas é afinado demais. O cobertor é quente, mas não sabe me abraçar. A capa do livro que você esqueceu, ou que não veio buscar, me mira, mas seus olhos não brilham. Eu posso ficar na poltrona da sala enquanto dure a madrugada que nenhum gemido vai me sussurrar no ouvido. Nenhuma mão delicada com cheiro de pêssego vai me delinear o rosto. Nenhum sorriso vai me seduzir. Meu corpo sofreu a noite toda de abstinência do teu. Eu tremi a noite toda de abstinência de você. Bem no domingo de manhã. Eu com os olhos estalados como se eles tivessem descansado a noite inteira. A aparente roupa de quem não acordou no domingo pela manhã. Fui comprar café pronto. Dois pra me acompanhar nas torradas matinais. 

E justo no do domingo de manhã. Eu com cara de quem acabei de acordar, mas quem não dormi a noite inteira. A primeira roupa que vi na minha frente e o cabelo ainda bagunçado. Fui comprar uns sonhos pra acompanhar o suco de laranja que iria fazer. Uma flor pra colocar na mesa. Na sua mesa. Mas te encontrei no meio do caminho com dois copos de café pronto e a aparente roupa da última madrugada. 

Bem no domingo de manhã. Eu com os olhos estalados como se eles tivessem descansado a noite inteira. A aparente roupa de quem não acordou no domingo pela manhã. Fui comprar café pronto. Dois pra me acompanhar nas torradas matinais. Que eu ia fazer na sua cozinha. Mas te encontrei no meio do caminho com uma flor na mão.

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